Desmistificar os Genéricos
Ao apresentar a sua receita na farmácia, já lhe deve ter sido questionado se preferia genérico. Muitas das vezes, esta questão gera algumas incertezas. “Não deveria ser o médico a decidir?”, “Qual é a diferença?”, “Qual é o melhor?”. Geralmente são as respostas que o farmacêutico recebe. Este artigo destina-se a esclarecer, e a ajudá-lo a si, a tomar a opção correta.
O que é um genérico?
De acordo com o INFARMED, “um medicamento genérico é um medicamento com a mesma substância ativa, forma farmacêutica, dosagem e com a mesma indicação terapêutica que o medicamento original, de marca, que serviu de referência”. Para cumprir a definição acima, o medicamento tem de garantir critérios de biodisponibilidade, através de estudos de bioequivalência.
O que é a Biodisponibilidade/Bioequivalência?
Para um medicamento apresentar ação terapêutica, tem de ter uma determinada concentração no local onde vai atuar, e durante um período de tempo suficiente.
A Biodisponibilidade estuda a quantidade de substância de um medicamento que é absorvida e que fica disponível para atuar na corrente sanguínea. Um estudo de Bioequivalência compara a biodisponibilidade de dois medicamentos. Se nas mesmas condições, os medicamentos tiverem a mesma biodisponibilidade, então os seus efeitos, em termos de eficácia e segurança, serão essencialmente os mesmos. Ou seja, medicamentos bioequivalentes têm a mesma segurança e eficácia. Sendo os genéricos bioequivalentes do medicamento que serviu de referência (“original” ou de “marca), vão ter a mesma segurança e eficácia. A forma de reconhecer um medicamento genérico é procurar a sigla [MG] na embalagem exterior.
“Quando termina a protecção da patente, qualquer empresa pode produzir e comercializar a mesma substância, bastando demonstrar os estudos de bioequivalência, já descritos. Desta forma, têm menos custos de investigação e desenvolvimento da molécula para incorporar no preço.”
Por que razão há uma diferença de preço?
Para compreender a diferença de preço temos de considerar como se desenvolvem os medicamentos novos. Assim, que a nova molécula é desenvolvida, é protegida por um registo de patente por um período de vinte anos. Durante estes vinte anos, a empresa tem exclusividade de comercialização.
Após um processo demorado, de mais de dez anos, de vários estudos de segurança e eficácia, o medicamento recebe a Autorização de Introdução do Mercado (AIM). Quando termina a proteção da patente, qualquer empresa pode produzir e comercializar a mesma substância, bastando demonstrar os estudos de bioequivalência, já descritos. Desta forma, têm menos custos de investigação e desenvolvimento da molécula para incorporar no preço. Também de acordo com o legislado em Portugal o preço de um novo medicamento genérico deverá ser inferior em pelo menos 20%.
Os medicamentos genéricos são tão bons como os originais?
Os medicamentos genéricos seguem as mesmas normas de qualidade, seja na produção, controle de qualidade e distribuição. Todos os medicamentos são produzidos em instalações que cumprem as leis em vigor.
Os medicamentos genéricos também são periodicamente inspecionados pelas autoridades e são testados de modo a demonstrar a sua eficácia.
“Os medicamentos genéricos também são periodicamente inspecionados pelas autoridades e são testados de modo a demonstrar a sua eficácia.”
Os genéricos têm vantagens?
Um medicamento genérico tem uma boa relação custo-benefício, apresenta menos custos para o utente. O que promove a adesão à terapêutica. São moléculas com muitos anos de comercialização, sendo, por isso, medicamentos com eficácia conhecida e elevado perfil de segurança.
A escolha de um medicamento genérico também contribui para reduzir custos no sistema de saúde. Essa poupança, pode ser utilizada para o desenvolvimento de moléculas inovadoras (medicamentos novos) ou outros projetos.
Como são prescritos os medicamentos genéricos?
Os medicamentos são prescritos pelo nome da substância, Denominação Comum Internacional (DCI), seguida da dosagem e forma farmacêutica. Ou seja, geralmente não vem descrito se é para dispensar de marca ou qual o laboratório genérico.
Na farmácia, temos o dever de informar e dispensar os medicamentos mais baratos, exceto quando o utente escolhe um medicamento mais caro.
O utente tem o direito de escolher o medicamento que prefere, por isso se deve colocar a questão “tem preferência?”.
Em alguns casos, o médico pode prescrever por marca. Por exemplo, em caso de alergias, medicação prolongada, medicamentos com margem terapêutica estreita.
Fiz alergia a um genérico, faço alergia a todos os genéricos?
Apesar da substância ativa ser a mesma, o método de produção poderá ser diferente e utilizar diferentes excipientes (são moléculas sem função ativa, mas auxiliam no fabrico). Ser alérgico a um dos excipientes não significa que o seja a todos os genéricos.
Espero que a leitura deste artigo tenha contribuído para que, da próxima vez que for à farmácia e lhe perguntarem se tem preferência por genérico ou de marca, consiga tomar uma decisão informada e sem receios.
Autor: Dra. Sofia Lourenço Silva – Farmacêutica
Fontes: INFARMED.pt
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Nota: Este artigo não serve como aconselhamento. O seu fim é estritamente informativo e não dispensa, em caso algum, a análise específica do seu caso em concreto.