Eczemas em Meio Agrícola


Os eczemas de contacto em meio agrícola resultam do manejo por parte do agricultor de produtos químicos fitossanitários utilizados para combater as pragas do campo e por outro lado do contato com plantas, sobretudo aquelas de alto poder sensibilizante. 

 

O desenvolvimento marcado da indústria agroquímica nos últimos anos, com a introdução constante de novas substâncias no mercado bem como as múltiplas aplicações que são efetuadas, condicionam uma maior exposição do agricultor e consequentemente um aumento de incidência do eczema  de contato alérgico, principalmente se considerarmos a diminuição da população activa em meio rural. Na tabela assinalam-se de forma não exaustiva algumas das substâncias responsáveis pelo aparecimento de eczema contacto alérgico. 

As técnicas de aplicação dos produtos fitossanitários no campo, explicam que a forma clínica mais frequente de manifestação do eczema de contato alérgico do agricultor seja a denominada dermatite “airborn” ou aerotransportada. As substâncias potencialmente alergénicas são libertadas para a atmosfera depositando-se secundariamente sobre a pele. As lesões surgem na face, pescoço, braços e mãos em locais facilmente relacionáveis com transporte por via aérea das substâncias. O aspeto é de uma área vermelha sobre a qual surgem vesículas que rompem e dão origem a um líquido claro. Normalmente existe vontade de coçar o que pode condicionar o aparecimento de uma infecção bacteriana secundária. 

Um padrão de manifestação clínica diferente do “airborn” pode ser o resultado do uso de luvas de borracha para manipulação dos produtos. Neste caso o eczema de contato surge na 

área que foi coberta pelas luvas de forma extremamente bem limitada. 

A profilaxia dos eczemas de contato a estes produtos implica por parte do agricultor o respeito das condições recomendadas para a sua utilização, nomeadamente uso de vestuário adequado, atenção à direção do vento, evicção de horas de maior calor e lavagem adequada após a aplicação. As empresas produtoras devem indicar nas etiquetas a capacidade sensibilizante do produto, o que implica a determinação do índice de sensibilização para os novos agentes antes da sua introdução no mercado. 

As plantas podem causar alergias de pele com bastante frequência na medida em que na
sua constituição entram inúmeras substâncias químicas. Os fatores que influenciam esta presença são sobretudo a sua fase crescimento, o clima, o solo variando segundo a parte da planta com que se contacta. 

Podem causar eczemas por contato direto no agricultor que as manuseia ou indiretamente pela presença dos mesmos produtos em substâncias comerciais como no caso dos perfumes, bálsamo de Perú e colofónia. 

De acordo com o mecanismo pelo qual a planta causa a alergia esta pode manifestar-se de diferentes formas que se classificam em irritativas, alérgicas e fitofotodermatites. 

Os eczemas irritativos resultam da agressão por um mecanismo traumático mecânico – lâminas de madeira, cristais de oxalato de cálcio – em que a forma física da própria planta produz a irritação. Significa, portanto, que o indivíduo não necessita de ser alérgico àquela planta 

pois o simples tocar causa o problema na pele. Estes eczemas são os mais frequentes, mas os de menor importância pois simples cuidados no manuseio da planta são suficientes para impedir a agressão. 

Nos eczemas de contato alérgicos o mecanismo é diferente. Existe uma substância dentro da planta ao qual o indivíduo é alérgico e basta o contato ocasional, mesmo por pouco tempo 

e numa área reduzida, para desencadear a doença. Os aspetos são variados não se localizando apenas ao local de contato, podendo afetar toda a pele de formas variadas (Fig 3). Surgem normalmente após um período de 24 a 48 horas após o contato o que por vezes torna difícil a identificação da planta responsável. 

De salientar também que podem existir reações cruzadas, ou seja o contato com uma planta diferente (normalmente da mesma família) desencadeia uma reação semelhante pois 

na sua constituição existe uma substância química idêntica ou do mesmo grupo. Este tipo particular de eczema é mais difícil de tratar pois desencadeada a alergia a única forma de resolver é evitando o contato. Dentro do grupo de plantas contendo substâncias capazes de induzir eczema de contato alérgico incluem- se as Liliaceae (alho e cebola), as Compositae (crisantemo e girassol), as Primulaceae (primula) e os Lichens. 

As fitofotodermatites pertencem ao último grupo de reações a plantas, mas nestas que
o fator sol é fundamental. É necessário que o indivíduo esteja ao sol para que o eczema surja, fazendo com que uma mesma planta que, por exemplo num dia chuvoso não desencadeia qualquer reação, seja responsável por alterações importantes da pele com aparecimento de bolhas se manuseada num dia de sol. O exemplo típico é o da figueira:  o descansar encostado a uma figueira com sol pode desencadear alergia enquanto no Inverno nada se passa. Por outro lado, estes produtos fotosensibilizantes causam o escurecimento da pele mesmo depois do processo estar terminado, alteração esta que pode ser definitiva. 

Assim, e em resumo, as alergias provocadas por plantas podem ser irritativas e imediatas, tardias e alérgicas ou necessitar de sol para serem desencadeadas. As primeiras são as mais frequentes, mas são as outras que obrigam a maior cuidado na identificação do agente causal e cujo tratamento se torna mais complicado.

 

César Martins 

Dermatologista na Policlínica Central da Benedita

segunda, 08 de junho de 20