Envelhecimento Saudável e a Medicina do Futuro
O nome “Medicina Anti-Envelhecimento” (MAE) não é de facto um nome bem conseguido, dado que “antienvelhecimento” pode parecer “não chegar a velho”, o que então quer dizer morrer novo. Daí que muitos lhe chamam medicina integrativa, regenerativa, funcional, “slow Aging”, “smart aging”, “lifestyle medicine” ou qualquer outro nome diferente de “medicina anti-envelhecimento” (MAE) ou “anti-aging”, associada sempre a estética, quando na verdade a MAE nada tem que ver com a estética. Eu gosto do nome de Medicina para o envelhecimento saudável.
Na verdade o nome pouco importa, pois a MAE não é uma especialidade, nem nunca poderá ser, sob o meu ponto de vista, pois é um complemento da nossa actividade médica devendo estar integrada no espirito dos médicos de todas as especialidades.
O objectivo é um envelhecimento saudável com mais energia e vitalidade, mais saúde e menos doença. A necessidade da prevenção é absolutamente indispensável. Faz mais sentido prevenir desde cedo a doença para que os anos vindouros sejam activos e vigorosos, do que tratar a doença e idealizar asilos e lares, para acolhimento de idosos, super-medicados, que já não vivem, apenas aguardam a morte. É infelizmente, esta a realidade. Temos de meditar sobre isto e actuar na prevenção urgentemente. A medicina mudou e a forma de olharmos para ela tem também de mudar. Não podemos “fechar os olhos” à realidade e fazer ou não fazer porque o “livro de texto diz”.
Passarão décadas até que muito do conhecimento actual se expresse nos livros de Medicina. Não podemos “enterrar a cabeça na areia” quando a cada dia, temos a evolução do conhecimento a um nível difícil de acompanhar para quem estuda muito e diariamente. Quanto mais para aqueles que por força das circunstâncias não o fazem. Fazer uma medicina personalizada requer conhecimento…e tempo. É impossível fazê-lo em consultas de 15-30 minutos.
Medicina Anti-Envelhecimento, dedicado à investigação.
Em 2009, Elizabeth H. Blackburn, Jack W. Szostak e Carol W. Greider foram galardoados com o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina na sequência dos seus trabalhos a nível dos telómeros, telomerase e antienvelhecimento.
Nós envelhecemos por diversos mecanismos, entre os quais o stress oxidativo, o encurtamento dos telómeros e a queda hormonal que se verifica com a idade.
Estes 3 cientistas descobriram o mecanismo utilizado pelas células para impedir o encurtamento dos cromossomas através da enzima telomerase.
A medicina anti envelhecimento e para o envelhecimento saudável, é uma medicina preventiva que tem como objetivo proporcionar-nos uma melhor qualidade de vida, atrasando sinais e sintomas relacionados com o envelhecimento.
Não é o elixir da juventude, nem tem por objetivo acrescentar mais anos de vida.
Saúde não é apenas ausência de doença. A própria OMS redefiniu o conceito de saúde como “Estado de completo bem estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e deformidades”
Para a MAE, a saúde é muito mais do que não estarmos doentes. É estar em sintonia com a vida, sentindo entusiasmo, alegria, energia e paixão. É estarmos felizes o que só conseguimos mantendo uma mente sã num corpo são.
Não morremos por termos idade. Morremos por causa das doenças degenerativas associadas à idade: Cancro, Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), Doenças cardiovasculares, Diabetes, Hipertensão, Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva, Osteoporose. Estas 7 causas representam 70% das causas médicas de morte em quase todo o Mundo. E se formos a pensar bem, em todas estas patologias, a obesidade por exemplo participa na génese de todas elas. Tal como o tabaco, o álcool, os níveis altos de glucose as dietas ricas em gordura trans ou baixas em ácidos gordos polinsaturados, omega3 frutas e vegetais, tal como a inactividade física. Todos estes factores podiam ser trabalhados educando a população e adquirindo “hábitos e estilos de vida saudáveis”.
A Medicina anti envelhecimento (MAE) é exactamente uma nova forma de olharmos para a medicina e o objectivo dela é prevenir ou adiar o aparecimento “doença degenerativa” associada à idade.
O médico do futuro tem de integrar este conceito na sua vida diária. Tem de aprender a tratar da saúde e não apenas da doença no seu estado já declarado. Mas de facto nós aprendemos apenas a tratar da doença. Nas faculdades ninguém nos ensinou a tratar da saúde.
Temos de ter a consciência de que modestas diferenças no nosso estilo de vida podem ter grande impacto na redução do nosso risco de mortalidade.
Vivemos num país em que há alguns anos era o 3.º a consumir mais ansiolíticos e antidepressivos na Europa. Actualmente Portugal está em primeiro na lista da utilização deste tipo de medicação. Temos TODOS de meditar sobre o que está a acontecer.
A realidade é muito “feia”. Os hospitais não tratam muitas vezes os utentes devido à idade. Há prioridades. E embora chocante, preocupante e injusto é esta a realidade.
Os mais velhos também deixam de ter assistência pela maioria das seguradoras a partir de uma certa idade, quando mais precisam. Sabemos que mais de 90% dos gastos com a saúde são utilizados após os 65 anos.
Efectuar uma medicina abrangente tendo em conta os cinco pilares da MAE representa uma poupança futura. Estes cinco pilares são: nutrição, exercício físico, suplementação alimentar, modulação hormonal e estilos de vida saudáveis.
Os doentes são tratados na mesma mas além da eventual “medicação” que trata o sintoma, são tratadas as causas também. É pois tratado de uma forma mais abrangente.
Na MAE vemos o utente como um todo, damos atenção a todas as suas queixas, temos de ter tempo para o ouvir. É impossível isto fazer-se quando se tem pouco mais de 10 minutos para ver cada utente.
Sem tempo, não teremos a subtileza de diagnosticar o que podia ser diagnosticado e limitamo-nos a olhar para os chamados “exames complementares”, que grande maioria não sabe interpretar, não fazendo os diagnósticos corretos, pois nós temos de ver o utente e não apenas os exames. E estes têm de ser correctamente interpretados e olhados pois muitas vezes nos permitem detectar com muitas décadas de antecedência alguma alteração cujo desfecho poderia ser fatal se não trabalhado de imediato.
Exemplos médicos correntes observados diariamente na prática clínica
- “Regularizar” períodos ou “tensões prémenstruais-TPM”- A maioria dos médicos dá uma pílula para este efeito. O médico do futuro pensaria: “Não. A pílula contém estrogénios. Estou a baixar a função tiroideia, o sistema imunitário, a aumentar o cortisol com todas as suas consequências negativas a longo prazo, estou a provocar uma menopausa precoce nesta miúda ainda jovem, privando-a de uma sexualidade saudável, pois a pílula inibe os androgénios e a libido, estou a estimular outras hormonas do stress, a elevar o LDL do colesterol, o açúcar no sangue, a tensão arterial e os batimentos cardíacos, a suprir o sangue aos seus intestinos, a não deixar a regeneração corporal dar-se na sua plenitude, a baixar a serotonina e a causar problemas digestivos. No futuro a aumentar-lhe o risco de cancro da mama, eventualmente. E este médico do futuro, percebendo toda esta fisiopatologia e inter-relação entre as hormonas e todos os outros pilares da MAE, corrigiria a alimentação desta adolescente, verificaria os níveis de “stress” destas meninas e talvez medicasse com uma hormona natural como a progesterona após verificar o bom funcionamento da tiróide, a maior responsável por estes distúrbios e muitas vezes na sequência de um cortisol elevado, o que leva necessariamente a uma progesterona também baixa, pois a “matéria prima” é a mesma para a síntese do cortisol e da progesterona, as proteínas de transporte as mesmas e os receptores de acção os mesmos. Ou seja, o médico do futuro, interrelaciona os estilos de vida, a nutrição, o exercício físico, a suplementação alimentar e a modulação hormonal, actuando em conformidade naquele caso específico. Sabe como tratar a TPM de forma a prevenir que esta miúda se torne numa mulher cheia de nódulos e quistos nas mamas e útero, sendo que muitas vezes vemos raparigas ainda novas já histerectomizadas com um passado de TPM, que não foi corretamente diagnosticado e tratado.
- Outra situação frequente é o colesterol aumentado. Sim, o colesterol que tanta “guerra” tem dado entre os médicos e entre estes e a indústria farmacêutica.
O médico, ao verificar um colesterol aumentado, terá de imediato a tendência para baixar este valor. Muitas vezes nem avaliando a proporção entre as diferentes fracções do colesterol. O colesterol é de suma importância para o nosso corpo. Ele constitui uma substância “reparadora” do nosso organismo. É precursor da Vitamina D e das hormonas esteroides.
Os ácidos biliares necessários à absorção da gordura são feitos de colesterol, é um potente anti-oxidante, protegendo-nos do cancro e envelhecimento. É vital às funções neurológicas. Desempenha um papel importante na memória e hormonas cerebrais, incluindo serotonina. Os receptores da serotonina não funcionam com níveis de colesterol muito baixos.
Se baixarmos muito o nível de colesterol vamos ter problemas de açucar no sangue, edemas, deficiências minerais, inflamação cronica, dificuldade na cicatrização, alergias, asmas, diminuição da libido, infertilidade e outros problemas na reprodução.
Devemos ter a noção que mais drogas = mais demência, e que esta custa mais de 4 vezes ao estado que o cancro. O médico do futuro pensará que o corpo é maravilhoso e sabe que ele tenta auto compensar-se.
Ele pode, enquanto não doente na fase de exaustão (1936, Hans Selye), equilibrar-se desde que o ajudemos. Ao observarmos um colesterol alto não devemos ter a tendência de o baixar logo sem avaliar as suas proporções “boas e más”, ou que essa elevação pode estar a representar um mecanismo de compensação do corpo para secretar hormonas esteroides. É o que acontece com a idade e a baixa das nossas hormonas. O colesterol começa a subir. É um mecanismo de compensação. Ou que a tiróide não está a funcionar bem. Pois na baixa da hormona tiroideia activa T3 verificamos frequentemente um aumento do colesterol pois sem T3 a “cascata” de colesterol não se desenvolve e todas as hormonas esteroides ficarão em deficiência o que não será bom para a nossa saúde também. O problema e a discussão nem devem ser as Estatinas e todos os seus riscos e perigos, pois terão em alguns casos, eventualmente, benefícios. Tudo depende de cada caso, mas certo é que antes de decidirmos por este caminho deveríamos pensar nestas outras hipóteses.
3. Ou o caso da má qualidade do sono e depressão e irritabilidade verificado nas mulheres da menopausa por baixa hormonal medicadas de imediato com um ansiolítico e anti-depressivo. Em vez de se tratarem das hormonas estamos a fazer medicações que trarão problemas no futuro como falta de memória, pior qualidade de vida, flacidez do nosso corpo e aumento de outras doenças como os tumores da mama que triplicam nas mulheres que consomem alguns tipos destas substâncias. Não querem fazer hormonas com medo do cancro (falsa relação, se tiverem em conta o equilíbrio alcançado com o conhecimento dos “5 pilares” da MAE) mas fazem medicações algumas com risco superior ao das hormonas não bioidênticas.
4. Outro exemplo clássico é a depressão, onde há que se verificar a tiróide. E não é pelas análises que vemos o bom funcionamento da tiróide. É clinicamente, e ecograficamente, pois que podemos ter as análises “bem” (as que vulgarmente se pedem), e o utente ter um hipotiroidismo periférico celular.
O hipotiroidismo subclínico não diagnosticado, é uma condição frequente.
Queixas frequentes como mãos frias, pés frios, dor e rigidez matinal das articulações, a fadiga, o acordar cansado, a facilidade em engordar com todos os cuidados, a prisão de ventre, a tendência depressiva, estão entre os sintomas e sinais major do hipotiroidismo.
É frequente o utente não ser diagnosticado porque “as análises estão normais”.
5. Ou ainda o acne, em que aparecem a fazer ciclos de isotretinoina, em vez de se corrigir a alimentação e verificarem os níveis hormonais e efectuar o seu equilíbrio após correcção essencial da alimentação, sem a qual nada vamos conseguir. Mas a forma mais simples é dar uma pílula mais uma vez.
6. E por fim, a disbiose intestinal, uma das causas do síndroma do intestino permeável tão importante de ser tratado, pois está relacionado com imensas patologias hormonais e do foro autoimunitário, havendo que estar alerta para esta situação. O Médico do Futuro tem em consideração que é o trabalho dos 5 pilares da MAE que farão a diferença na qualidade de vida e no tratamento do utente. O médico do futuro trata, mas explica a importância da nutrição e do exercício físico. Indica a suplementação adequada a cada situação e sabe manejar bem os suplementos alimentares, que sendo de venda livre são muitas vezes utilizados indiscriminadamente e em doses tóxicas. Devemos pensar que além do princípio activo, todos os suplementos são veiculados no organismo por um composto e contêm um excipiente de veículo do princípio activo, substâncias exógenas do nosso corpo que podem ser tóxicas ou alérgicas ao nosso organismo. Não é porque é suplemento que “não faz mal”! O médico do futuro não pode ter 15 minutos de consulta, daí que algo tem de mudar para que se melhore a saúde dos utentes e a qualidade da medicina que praticamos. Sem tempo, não há raciocínio. Sem raciocínio somos manipulados por protocolos para os quais nem nos damos ao trabalho de fazer um juízo crítico…pois também não há tempo. O que a medicina faz atualmente muitas vezes, é prolongar a vida do utente à custa de prolongar a doença. Há que pensar-se “antes”, prevenindo e retardando o aparecimento das chamadas doenças degenerativas e isto hoje consegue-se sim, através de um equilíbrio do nosso corpo trabalhando os cinco pilares em que assenta a medicina para o envelhecimento saudável: nutricão, exercício físico, suplementação alimentar, modulação hormonal, fundamental e de facto aquela sobre a qual eu me dedico mais, e a mudança dos errados hábitos de vida. É da sinergia destes elementos que resulta o aumento da nossa vitalidade, o retardar do nosso envelhecimento e o estender eventualmente a nossa longevidade.
Dra. Ivone Mirpuri, Médica Patologista Clínica, especialista em Modulação Hormonal