Stress, saúde e doença


O que é o stress? 

O stress é um estado de ameaça ao nosso equilibrio interno, biológico, ecológico ou social, considerado ideal para a estabilidade e sobrevivência, quando este se encontra sujeito a factores adversos internos ou ambientais. Perante um evento ameaçador ou inesperado, o organismo reage, com um vasto leque de respostas fisiológicas e comportamentais que têm como objectivo restabelecer o equilibrio corporal. 

O stress é assim um estado de desequilíbrio, de alerta, que nos permite reagir rapidamente às situações adversas do dia a dia. No entanto, quando a situação de stress se mantém durante demasiado tempo ou surge de modo muito frequente, o stress pode transformar-se nocivo , com consequências na nossa saúde física e mental. 

 

O que é que acontece no corpo e cérebro quando estamos sob stress?
O cérebro pode ser comparado a uma central de controlo e de integração da informação necessária à execução de todas as actividades humanas. Para isso, possui sistemas de informação, execução e afinação permanentes, que permite por exemplo a manutenção 

das condiçoes ideais de performance física e intelectual. Destes sistemas faz parte uma complexa resposta neuroendócrina mediada pelo sistema nervoso central, periférico e autonómico, que ativam uma resposta do sistema imunitário de autodefesa vulgarmente chamado na literatura anglosaxónia como “fight or flight” (luta ou fuga). Durante essa resposta, a frequência cardíaca aumenta, a respiração passa a ser mais rápida, os músculos contraem- se aumentando a tensão muscular, e a pressão arterial aumenta. Estas são algumas das respostas do organismo que permitem que, por exemplo, quando de repente vamos distraídos e não vemos um degrau ainda assim, seja possível desequilibrar-nos mas não cair. 

 

Há vários tipos de stress? Há algum stress que possa ser positivo?
O nosso organismo está preparado para aguentar pequenas quantidades de stress, sobretudo 

se este não se prolongar demasiado tempo. A presença de stress prolongado está associada
a um maior risco de roptura do equilibrio homeostático e assim à ocorrência de sintomas. 

Podemos assim falar de um stress “protector” (ou positivo) que nos pode ajudar a manter alerta ecentrado nasactividades.Éaquilo,comojá todos experimentámos ao estudar em vésperas de exames, que nos ajuda em situações de emergência a ter uma resposta rápida e eficaz, como por exemplo quando um peão distraído se atravessa na estrada, ou mesmo quando recebemos boas mas inesperadas notícias. 

No entanto, hoje me dia, muitos vivem em permanente resposta de “luta ou fuga”, mesmo não estando constantemente em verdadeiro perigo. De tanto desencadear a resposta a pequenos stresses pouco espaçados, passamos a estar expostos quase de modo permanente à resposta neuroendócrina, incluindo a exposição crónica às hormonas de stress. Nestes casos, ultrapassamos a linha do equilíbrio e passamos a viver um estado de permanente resposta
ao stress, sem que haja necessidade de novos estimulos stressantes para o manter. Este tipo de stress é por alguns autores designado como stress crónico. 

No stress crónico, é frquente surgirem sintomas físicos, emocionais, comportamentais e cognitivos, sendo alguns dos mais frequentes, a irritabilidade, a dificuldade de concentração e de organização do pensamento, alterações do sono ou apetite, queixas digestivas, sentimentos de incapacidade, diminuição da autoestima. 

 

Quais as causas mais frequentes de stress? 

. Dentro dos eventos que nos ocorrem na vida, foram associados à maior ocorrência de stress, a presença de uma doença crónica, de uma catástrofe natural ou induzida pelo Homem como as guerras ou pandemias, dificuldades monetárias extremas, profissões com risco 

de vida, sobreviventes de situações que lhe puseram a vida em perigo, vítimas de crimes, de stress familiar extremo, ou cuidadores de doentes graves. 

Do ponto de vista pessoal e das organizações, factores como insegurança na execução das tarefas, frustração ou aborrecimento frequente, solidão, atrasos frequentes, demasiado trabalho com pouco equilíbrio com o resto das actividades da vida (designados na literatura anglosaxónica como workaholics), burn out, demasiado sucesso (too much of good things) ou exagero de auto-obrigações, estão também associados a estados de stress crónico.

 

 

Isabel Lestro Henriques, MD, PhD, Neurologist

quarta, 09 de junho de 21